Há vinte e cinco anos, o congresso dos Estados Unidos convocava executivos das sete maiores empresas de tabaco do país. Foi o início da mudança de como a sociedade deixou de ter uma imagem do cigarro para além das peças publicitárias e tornou-se um problema de saúde pública. Os executivos admitiram que seu produto poderia causar câncer e doenças cardíacas e chegando a afirmar que não gostariam que seus próprios filhos fumassem.

Nesta terça-feira (26), sete executivos farmacêuticos estão prontos para testemunhar perante o Comitê de Finanças do Senado, A expectativa mínima é por um momento igualmente crucial para os preços dos medicamentos prescritos em um momento em que a indústria farmacêutica conseguiu agregar a ira inclusive dos parlamentares do Partido Republicano, já que historicamente os Democratas sempre se posicionaram contra abusos e artimanhas da Big Pharma.

A matéria It’s finally pharma’s turn’: Drug CEOs face Capitol Hill reckoning, publicada nessa segunda-feira (25) pelo site Político, faz um resumo assustador: um frasco de insulina que custou menos de US$ 200 há uma década, agora é vendido por cerca de US$ 1,5 mil.

O Actimmune, medicamento que trata a osteoporose maligna grave e é vendido por menos de US$ 350 por um suprimento de um mês na Grã-Bretanha, custa US$ 26 mil para um suprimento de um mês nos Estados Unidos.

Além das distorções, os preços de muitos medicamentos que tratam do câncer, da pressão alta, de alergias chegaram a aumentar tanto que os consumidores médios estão racionando seu uso e se expondo a uma gama de consequências que envolvem o comprometimento da eficácia do tratamento e graves riscos à saúde. Nem mesmo especialistas das áreas que envolvem a saúde parecem saber como esses preços são definidos ou porque continuam subindo.

O artigo It’s Time for Pharmaceutical Companies to Have Their Tobacco Moment publicado nesse domingo (24) no New York Times, elaborou perguntas e comentários caso os membros do Comitê de Finanças do Senado queiram aproveitar a audiência desta terça (26) para tirar dos executivos as informações de real interesse público:

Como você determina a lista de preços dos medicamentos? Quem decide os fatores que entram nas fórmulas de nos preços de medicamentos e por que essas fórmulas não podem ser tornadas públicas?

Os senadores também devem perguntar ao diretor executivo da Sanofi, Olivier Brandicourt, porque o custo da insulina continua aumentando ano após ano, já que a droga está disponível há quase um século, e em muitos casos ainda goza de proteção de patente. A Sanofi é a única grande fabricante de insulina programada para participar da audiência.

Na sexta-feira, os senadores Chuck Grassley e Wyden, membros do ranking do Comitê de Finanças, abriram uma investigação sobre os preços da insulina.

Qual é a margem de lucro justa para produtos que salvam vidas?
Um lamento comum entre os executivos farmacêuticos é que, sem lucro suficiente de um medicamento, as empresas não podem arcar com o próximo. Um argumento justo. Ainda assim, muitas empresas líderes desfrutam de bilhões de dólares por ano em lucro, mesmo quando vidas são colocadas em risco por falta de medicamentos básicos. As seguradoras estão sujeitas a um limite de 15% a 20% sobre os lucros e despesas administrativas. O congresso deve considerar um requisito semelhante para certos medicamentos prescritos.

Quanto você gasta em pesquisa e desenvolvimento e para onde vão esses dólares?
As empresas farmacêuticas rotineiramente argumentam que os preços dos medicamentos são altos porque a pesquisa e o desenvolvimento são caros e porque qualquer medicamento de sucesso é precedido por muitos fracassos. Críticos da indústria, no entanto, observam que boa parte da pesquisa básica é financiada pelo governo federal, através dos Institutos Nacionais de Saúde, e não pelos fabricantes de medicamentos. Muitos dos principais fabricantes de medicamentos gastam a maior parte de seus dólares em pesquisa, procurando novos usos dos medicamentos existentes e não inovações arriscadas. E estudos independentes mostram que os custos de pesquisa e desenvolvimento para as empresas farmacêuticas não são grandes o suficiente para explicar os altos preços dos medicamentos.

Com informações de The New York Times e Politico

Com imagem de Wren McDonald