Por: O Povo
O Povo – 30/11/2013
Ao lembrarmos a epidemia em 30 anos, não devemos esquecer os milhões de vidas abreviadas pela doença, mundo afora, os preconceitos que afetam as pessoas que vivem com HIV e as omissões das políticas públicas. Com a quarta década, há de se refletir sobre as respostas sociais. Se os novos casos estão decrescendo, a mortalidade no Brasil ainda é alta, se comparada aos países mais desenvolvidos. Diagnóstico tardio, assistência de saúde precarizada e pouca proteção social compõem o cenário causador de mortes que poderiam ser evitadas.
As vulnerabilidades para se contrair o HIV e para o adoecimento persistem, na medida em que culturalmente, enquanto sociedade, ainda reproduzimos o machismo, o sexismo e a homofobia. O fundamentalismo religioso e seus ecos sobre governos, campanhas de saúde pública e ataques ao Estado laico contribuem para este quadro.
Um grande desafio é reposicionarmos a aids no topo das agendas (de governos nacionais e da ONU) da saúde pública, dos movimentos sociais, em especial os que diretamente se identificam com a luta contra a aids, a homofobia, pelos direitos das populações LGBT e das mulheres. A aids ainda não é uma questão resolvida e superada. Vários especialistas querem estabelecer a meta de pôr fim à epidemia (e não a aids) até 2030, o que impõe desafios abrangentes.
Para nos determos ao Brasil, há de se revisitar as estratégias de diálogo com a sociedade e os movimentos sociais. Os governos federal e locais podem reconstruir um diálogo como parte fundamental dessa nova etapa de enfrentamento da epidemia.
Se a conjuntura nos oferta novas tecnologias de prevenção, que aliem estratégias e redução de riscos, bem como a revisão dos protocolos médicos poderá incluir mais milhares de pessoas em tratamento com antirretrovirais, a qualidade e a universalidade dos tratamentos e da assistência são condições imprescindíveis a essa nova etapa.
O Sistema Único de Saúde (SUS) e a saúde pública são bombardeados por interesses neoliberais, privatistas e comerciais. O SUS é patrimônio do povo brasileiro, e o enfrentamento da aids deve seguir tendo o SUS como seu lócus de enfrentamento.
As lutas sociais rearticulam direitos, controle social das políticas públicas e um caminho a percorrer. Os movimentos globais pelo acesso à saúde como um direito humano, contrapondo-se à indústria farmacêutica transnacional que, ao exigir lucros imensos, excluem dos tratamentos milhões de pessoas no mundo, expressam a importância de se evidenciar o direito à vida em uma humanidade violada por um capitalismo devastador e mórbido.
Que não esqueçamos a construção da solidariedade e da esperança. Como dizia o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que o dia da cura chegue logo. E que avancemos contra os preconceitos, os estigmas e que os governantes cumpram seus papéis.
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