O que está por trás da grande virada do discurso sobre o HIV/Aids? Se durante os anos 2000 as novas infecções eram tratadas como “epidemia fora de controle”, nos últimos anos testemunhamos a revisão para uma ideia de que a Aids caminha para um fim iminente, numa aparente tentativa de consenso que, especialmente no Brasil, esbarra no aumento das novas infecções em alguns estados como Amazonas e Rio Grande do Sul e na continuidade da epidemia no país em números absolutos, segundo o último relatório do Programa das Nações Unidas sobre a AIDS (UNAIDS)
O artigo From a global crisis to the ‘end of AIDS’: New epidemics of signification (De uma crise global ao ‘fim da AIDS’: novas epidemias de significação), publicado originalmente em inglês na última terça-feira (22) pela revista Global Public Health, investiga como a ideia do “Fim da Aids” está sido útil para o encolhimento do alcance de políticas públicas, pós-recessão, promovendo mudanças de prioridades no campo da saúde e do desenvolvimento, ao gosto da indústria farmacêutica, corporações internacionais e refletindo na agenda de doadores.
Escrito em co-autoria pelos pesquisadores Nora Kenworthy, Matthew Thomann e Richard Parker, o artigo questiona os argumentos que tentam relacionar o Fim da Aids aos avanços dos métodos de prevenção e tratamento do HIV, sugerindo moderação diante do dado de que pouco mais da metade das pessoas que necessitam de tratamento no mundo estão conseguindo acessar medicamentos (UNAIDS), sendo necessário priorizar o acesso dos milhões restantes que ainda não têm acesso.
“O fim da AIDS não está próximo”, definiu o diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), Richard Parker, que é um dos autores. Para ele, o novo discurso do “Fim da Aids” além de não corresponder à realidade do acesso a medicamentos nos países pobres e em desenvolvimento, está sendo seguido do fim do apoio externo para programas de tratamento, resultando no surgimento de novas dificuldades para a sustentabilidade de ações nesta nova era da epidemia.
Acesse o artigo online. Boa leitura!
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