A profilaxia pré-exposição (o uso de remédios para prevenir a infecção pelo vírus da aids) é eficaz. Mas ela atrapalharia o controle da doença no futuro?

A PrEP (profilaxia pré-exposição) é um tratamento preventivo à base de comprimidos que visa impedir a entrada do HIV no organismo. São medicamentos receitados a pessoas sem o vírus da aids, que impedem sua instalação no corpo. O método está disponível no Sistema Único de Saúde desde 2018 para grupos vulneráveis a essa infecção e também pode ser encontrado na rede privada.

Embora reconhecidamente eficaz, a PrEP gera dúvidas pertinentes. Um leitor de SAÚDE trouxe uma questão que resolvemos checar:

“Se tomar a PrEP, hoje estarei protegido. Mas, se eu parar e for infectado pelo vírus, meu organismo vai responder menos ao tratamento convencional, que controla a evolução da doença?”

Quem responde é o infectologista Ricardo Vasconcelos, professor da Universidade de São Paulo e um dos principais estudiosos da PrEP no país. “Havia essa preocupação no passado, mas diversos estudos comprovaram que a medicação não cria resistência em quem não tem o vírus circulando”, tranquiliza.

Por outro lado, quando o HIV já se instalou no corpo, a história muda. “Se a pessoa começa a tomar a PrEP e já tem a infecção sem saber, aí sim pode se tornar resistente ao tratamento de controle”, emenda. Daí porque, antes de entregar as doses preventivas, o serviço de saúde faz uma investigação extensa para garantir que esse inimigo da saúde não circula pelo organismo.

Do que é feita a PrEP?

Assim como o tratamento para quem já possui o HIV em circulação, ela é composta por antirretrovirais que impedem a replicação do vírus. “Só que a PrEP tem um esquema simplificado, com duas drogas: tenofovir e entricitabina. No tratamento da doença em si, usamos três ou mais compostos dessa categoria”, explica Vasconcelos.

Sua proteção não é eterna. Ela funciona mais ou menos como um anticoncepcional: quando você para, o risco de infecção volta a subir.

Os comprimidos preventivos estão disponíveis no SUS a grupos considerados mais vulneráveis ao HIV, segundo o Ministério da Saúde. São eles: gays, homens que fazem sexo com outros homens, profissionais do sexo, pessoas trans e parceiros sorodiferentes (quando um tem HIV e o outro, não).

Porém, pertencer a uma dessas turmas não é o suficiente para adotar a estratégia. Ela é indicada no sistema público a quem transou sem camisinha nos últimos seis meses e/ou apresenta infecções sexualmente transmissíveis com frequência e faz uso repetido da PEP (a profilaxia pós-exposição, que consiste em aplicar antirretrovirais imediatamente depois de um comportamento de risco para evitar a instalação do HIV no corpo).

É possível também aderir à PrEP na rede particular, a um custo de cerca de 300 reais por mês. “Mas é preciso sempre estar em acompanhamento médico para comprar e tomar os medicamentos”, avisa Vasconcelos.

Cabe destacar que esse método só diminui o risco de sofrer com o vírus da aids — outros problemas ameaçando quem faz sexo sem preservativos.

Publicado em Saúde Abril