Com cerca de três mil participantes de 60 países, a 6ª Conferência de Aids do Leste Europeu e Ásia Central (ECCAAC 2018), colocou na mesa de debate os principais problemas da resposta à epidemia na região, destacando os baixos recursos para iniciativas voltadas para grupos vulneráveis. O evento foi realizado de 18 a 20 de abril, em Moscou, na Rússia.

As duas regiões são as únicas em que o número de novas infecções por HIV e mortes relacionadas à Aids ainda está aumentando.

O chefe do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), Michel Sidibé (foto acima), informou que apenas 3% do total de gastos com HIV no Leste Europeu e na Ásia Central vão para projetos focados nas chamadas populações-chave – que incluem pessoas que usam drogas injetáveis, migrantes, profissionais do sexo, transexuais, indivíduos privados de liberdade e homens que fazem sexo com homens.

Mesmo assim, a avaliação do Unaids, o programa da ONU que organizou o evento em parceria com o governo russo, reconheceu houve avanços recentes mesmo diante dos persistentes desafios regionais, como na Armênia e em Belarus, onde a OMS verificou a eliminação da transmissão do HIV de mãe para filho.

Outro destaque, foi a adoção da abordagem de teste e tratamento por parte da maioria dos países do Leste Europeu e Ásia Central, assim como a queda do custo médio da terapia antirretroviral de primeira linha de cerca de US$ 2 mil por pessoa/ano (cerca de R$ 6.9 mil) para menos de US$ 200 (R$ 693).

“Estamos constantemente monitorando o desenvolvimento de novos tratamentos, porque é importante não apenas comprar remédios, mas formar uma cultura de adesão à terapia antirretroviral que não é tão simples”, disse em discurso a vice primeira-ministra da Rússia, Olga Golodets.

Jovens falaram no encerramento

A cerimônia de encerramento contou com discursos marcados pela honestidade de jovens que vivem com HIV. Zlata (imagem abaixo) tem 18 anos, mora em São Petersburgo e arrancou aplausos do público com sua história a sua opinião sobre o atual quadro da prevenção do HIV.

“Quando comecei a fazer sexo (com 13 anos) não era dito na escola que precisávamos nos proteger, não tinha ideia de que havia uma epidemia de HIV na Rússia e que eu poderia ser infectada. Não tinha acesso a preservativos, não tinha dinheiro para comprá-los”, explicou.

A jovem disse ainda estar preocupada com o fato do problema não estar resolvido. “Espero que a resolução aprovada nos traga um plano de ação para nos envolver na educação sexual das crianças, porque eu não quero que adolescentes como eu sejam infectados simplesmente por ignorância. É necessário resolver o problema agora mesmo. É desejável: ontem”.

Só em 2016, 25 mil jovens foram infectados pelo HIV na Rússia.

Primeiro adolescente russo a declarar publicamente que tem HIV, Yura Isaev (foto no topo), de Ecaterimburgo, tem 17 anos. Ele explicou as razões que levaram a revelar seu status de HIV.

“Tomei essa decisão depois de conversar com adolescentes soropositivos, quando dividíamos a experiência de como cada um contava pra alguém o fato de ter HIV “, disse. “Fiquei muito comovido com a história de uma garota: seus pais morreram, seu tio e tia queriam adotá-la, mas desistiram ao descobrir que ela tinha HIV e a trouxeram de volta ao orfanato”.

Yura então decidiu representar os adolescentes neste momento importante da descoberta pelo diagnóstico. “O tema do HIV ainda é um grande problema em suas vidas. Precisamos resolver promovendo mais treinamentos, grupos de conversa e prevenção, mais do que os que existem atualmente, e precisamos do apoio do Estado para realizar tudo isso”.

Com informações e imagens de ONUBR e URA.RU