Ser a principal patrocinadora da 9ª Conferência Internacional Científica sobre a HIV/Aids (IAS 2017) não livrou a farmacêutica dos Estados Unidos, Gilead Sciences, de receber pesadas críticas nessa quarta-feira (26), último dia do evento, em Paris.

Acusada de uma “ganância insaciável” e de “destruir orçamentos inteiros de governos”, o coordenador de Propriedade Intelectual e Acesso à Medicamentos, Othoman Mellouk, da Coalisão Internacional de Preparação ao Tratamento (ITPC), sob gritos de apoio e muitos aplausos representou à altura o humor da sociedade civil.

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Como evento científico mais importante do mundo sobre HIV/Aids, a IAS 2017 teve muitos momentos em que prevaleceu o clima de fórum político diante de cortes orçamentários para pesquisa, diagnóstico e prevenção em todo o mundo, ao mesmo tempo em que grandes indústrias farmacêuticas como a Gilead se beneficiam de arranjos legais e a complacência de governos para manter o altíssimo patamar dos seus lucros.

Mellouk abriu o seu discurso desmascarando uso da conferência por parte da Gilead como um “exercício de relações públicas de uma empresa que se importa com a saúde”, ao mesmo tempo que suas ações prejudicam pessoas em todo o mundo.

“Suas práticas de preços deixam milhões fora do acesso ao tratamento”, afirmou. Lembrou que na própria França, país sede do evento, os altos preços levaram pessoas a sacrifícios extremos, como por exemplo, para adquirir o medicamento que trata a hepatite C, o Sofosbuvir, vendido a US$ 32 mil no país.

Mellouk também revelou manobras da Gilead em relação às licenças que concede para outras empresas para fabricar seus medicamentos. Segundo ele, as concessões de licenças para outros fabricantes produzirem genéricos, nos países em desenvolvimento, não passam de “cortina de fumaça” para a manutenção de monopólio, abuso no sistema de patentes e uma série de medidas que chegam até a violação da privacidade dos pacientes.

PrEP para salvar vidas

A importância para populações-chave do Tenofovir / Emtricitabina, droga da Gilead indicada para a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), também foi citada por Mellouk, em especial para a comunidade gay. “É um desenvolvimento que poupa vidas, mas para a Gilead sempre foi uma oportunidade para apresentar patentes adicionais, estender indefinidamente outras e explorar nossas comunidades “.

Sob intensos aplausos, Mellouk encerrou sua intervenção com três reivindicações à Gilead: a primeira para a empresa reduzir preços e parar com a exclusão das pessoas de países de renda média do acesso aos medicamentos; a segunda para interromper o bloqueio da fabricação local e o registro de genéricos de Sofosbuvir e Tenofovir / Emtricitabina, e a terceira exigiu respeito à duração inicial das patentes que estão expirando. “Pare de pressionar os escritórios de patentes em todo o mundo para obter patentes abusivas como você fez vergonhosamente na Índia”.

A IAS 2017 foi realizada do último domingo (23) à quarta-feira (26) e contou com a participação de cerca de seis mil especialistas em HIV/Aids de todo o mundo.

 

Com informações de Make Medicines Affordable

Imagem: Seronet