Por: Folha de S.Paulo

 


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Após recentes fusões, as farmacêuticas multinacionais têm cortado investimentos de uma área vital: pesquisa e desenvolvimento de novos remédios.

Um estudo publicado no mês passado pela Universidade Harvard, chamado "Fusões e Inovação na Indústria Farmacêutica", analisou dados antes e após as fusões de grandes laboratórios e concluiu que, depois das mudanças, a descoberta de novas moléculas está ameaçada.

Antes da sua fusão, em 2009, por exemplo, a Pfizer (a maior do mundo) e a Wyeth investiam, juntas, US$ 11,3 bilhões por ano em pesquisa. Em 2010, os gastos caíram para US$ 9,5 bilhões. A previsão para 2012 é que não passem de US$ 7 bilhões. No ano passado, as receitas da Pfizer foram de US$ 67,8 bilhões.

No início deste ano, a empresa anunciou que encerraria estudos nas áreas de alergias respiratórias, antibióticos, reparação de tecidos e medicina regenerativa.

O mesmo aconteceu com a Merck, que se fundiu com a Shering-Plough também em 2009. Antes, ambas investiam US$ 8,4 bilhões em pesquisa. Neste ano, a Merck anunciou o fechamento de oito laboratórios no Canadá, na Alemanha, na Holanda e nos EUA.

"As fusões têm sufocado a inovação. As tendências atuais não asseguram nada de bom para o futuro", afirmou Frederic Scherer, professor de políticas públicas da Harvard Kennedy School e um dos autores do estudo.

O ex-chefe de pesquisa e desenvolvimento da Pfizer, John LaMarttina, chama esse cenário de "devastador". "No momento em que nossa compreensão sobre as bases das doenças continua crescendo, a habilidade de explorar essas informações está comprometida."

Em nota, a Pfizer afirmou que os cortes fazem parte de um processo de reestruturação da empresa. O objetivo, diz o laboratório, é parar de colocar recursos em áreas de alto risco e que oferecem baixo retorno de investimentos ou onde a empresa não tem "expertise" para competir.

OUTROS CORTES

Um recente relatório do desempenho dos 50 maiores laboratórios, publicado na "MedAdnews", revista especializada em negócios e marketing farmacêutico, alerta que os cortes em pesquisa estão disseminados no setor.

A AstraZeneca, por exemplo, encerrou as pesquisas de 20 substâncias que estavam em desenvolvimento para tratamento de dez doenças-o relatório não cita quais são.

A companhia já anunciou planos de eliminar 1.800 vagas de pesquisador, entre as 8.000 que pretende cortar nos próximos quatro anos.

A GlaxoSmithKline fechou seus laboratórios de pesquisa e desenvolvimento em vários países, entre eles Inglaterra, Itália, Croácia e Polônia. A Merck já anunciou o fechamento de oito laboratórios de pesquisa.

A consultora Caroline Buck-Luce, responsável pela área de ciências da Ernest & Young, explica que o dinheiro que circula hoje no mercado farmacêutico é baseado em descobertas de dez anos atrás. E isso está caminhando para o fim, em razão da expiração das patentes.

"As companhias querem resultados a curto prazo e estão indo para os países emergentes, investindo em genéricos e drogas biológicas."

Hoje, as multinacionais farmacêuticas já detêm 60% do mercado brasileiro de remédios genéricos.

A única exceção apontada no relatório é o laboratório Novartis, que anunciou planos de mais investimentos em pesquisa. "Não achamos que cortar orçamentos seja uma boa estratégia", afirmou Joseph Jimenez, CEO da Novartis. Segundo ele, a estratégia de pesquisa da empresa é seguir o caminho do mecanismo da doença e não o mercado em potencial.

Ele cita como exemplo o desenvolvimento da droga oncológica everolimus (Afinitor), que já se pagou. O remédio foi aprovado para tratamento de câncer nos rins, tumores neuroendócrinos pancreáticos e tumor cerebral. Também é estudado para o tratamento do câncer de mama com metástase.