Além do uso do Kaletra, da AbbVie, por parte dos chineses para o tratamento de um dos sintomas do coronavírus, o Prezcobix, da Johnson & Johnson (J&J) passa a ser mais um medicamento usado em terapias contra o HIV/AIDS que integra os esforços globais de pesquisa visando a cura para o vírus 2019-nCoV.

A J&J doou 300 caixas do seu medicamento para pesquisas que estão sendo desenvolvidas no Centro Clínico de Saúde Pública de Xangai e para o Hospital Zhongnan, da Universidade de Wuhan.

O Prezcobix é composto pelas substâncias darunavir e cobicistat, que são da categoria de medicamentos chamada inibidores de protease, a mesma do lopinavir e ritonavir, componentes do Kaletra.

Os inibidores de protease agem bloqueando a ação da enzima protease, fundamental para muitas ações no metabolismo das células de defesa do organismo que são atacadas pelo vírus: os linfócitos T, também chamados de células T.

Nas células infectadas, quando o medicamento bloqueia a ação da enzima protease, ele impede a produção de novas cópias de células infectadas pelo HIV, assim como a replicação de partículas virais formadas, produzindo apenas vírus inativos, o que pode resultar em um efeito terapêutico anti-viral significante. Ação que as pesquisas vão tentar adaptar ao novo coronavírus.

Evidências de estudos anteriores mostraram que um inibidor de protease já havia apresentado resposta clínica potencialmente positiva contra a Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars), causada por outro tipo de coronavírus, que entre 2002 e 2003 contaminou 5,3 mil chineses e deixou 774 mortos em todo o mundo – 349 deles no país asiático.

“Estamos colaborando com reguladores, organizações de saúde, instituições e comunidades em todo o mundo para ajudar a garantir que nossas plataformas de pesquisa, a ciência existente e a experiência em surtos possam ser maximizadas para conter essa ameaça à saúde pública”, disse o vice-presidente do comitê executivo e chefe científico da J&J, Paul Stoffels.

Abordagem multifacetada

A pesquisa com os medicamentos contra HIV integra a recomendação do Instituto de Matéria Médica de Xangai (SIMM), da Academia Chinesa de Ciências (CAS), para a investigação de 30 compostos potencialmente eficazes contra o 2019-nCoV, instituições públicas de pesquisa reconhecidas historicamente na descoberta de medicamentos no país.

Essa múltipla abordagem também incluirá uma revisão das vias conhecidas na fisiopatologia do coronavírus, para determinar se os medicamentos testados anteriormente podem ser usados para ajudar os pacientes a sobreviver à nova infecção e reduzir a gravidade da doença em casos não letais.

Mais insumos

A J&J também forneceu 50 caixas contendo ferramentas para investigações em laboratório para o Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, que inclui a triagem de medicamentos para propriedades antivirais contra o 2019-nCoV.

A farmacêutica passa a trabalhar em colaboração com outros pesquisadores e autoridades de saúde para rastrear uma biblioteca de terapias antivirais contra o 2019-nCoV, que inclui a identificação de compostos que demonstrem atividade antiviral eficiente contra este novo tipo de coronavírus.

Posição da OMS

Nesta quinta-feira (30), o Comitê de Emergência sobre o novo coronavírus será convocado para debater as recomendações que devem ser feitas para gerenciar o surto, que constitui uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (PHEIC), de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional.

“Agradecemos a seriedade com que a China está enfrentando esse surto, especialmente o compromisso da alta liderança e a transparência que demonstraram, incluindo o compartilhamento de dados e a sequência genética do vírus”, afirmou a diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, na última terça-feira (28).

Números atualizados

O número de mortos chegou a 170, com 7.711 casos confirmados na China. O novo vírus também se espalhou para pelo menos 15 outros países, incluindo Alemanha e França.

Possível origem

Acredita-se que o coronavírus – conhecido como 2019-nCoV ou coronavírus Wuhan – tenha se originado de animais silvestres comercializados ilegalmente em um mercado de frutos do mar na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China.

SAIBA MAIS

Células T – Também chamadas de linfócitos T, são células integrantes do sistema imunológico que protegem o corpo de infecções e tumores. Possuem a capacidade de reconhecer seu entorno e outros elementos graças a “receptores” presentes na sua superfície que operam em uma “leitura química” na busca de ameaças que devem ser eliminadas.

Com informações de PM Live, artigo Estratégias Farmacológicas Para a Terapia Anti-Aids, Microbiologia e Imunologia Online, Shangai Institute of Materia Medica e Bloomberg

Com imagem de BBC