Sob disputa ideológica entre governo de São Paulo e governo federal, as primeiras 120 mil doses da vacina CoronaVac chegam no próximo dia 20 no Estado. O anúncio foi feito pelo governador, João Dória, durante coletiva nesta segunda-feira (9).

Desenvolvida pelo laboratório público chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan contra o vírus SARS-COV-2, a previsão é de que até 30 de dezembro, o instituto receba as 6 milhões de doses prontas previstas.

Embora a importação do imunizante tenha sido liberada pela Anvisa, a CoronaVac ainda aguarda pelo registro para aplicação, que autoriza o uso para a população. A Anvisa já reduziu a exigência da documentação inicial e simplificou o processo de registro para que os dados dos estudos sejam enviados durante os trabalhos, e não somente ao final.

O contrato do governo de São Paulo com a Sinovac prevê um total de 46 milhões de doses da CoronaVac, sendo as primeiras 6 milhões importadas prontas da China, e as demais 40 milhões envasadas e rotuladas no Instituto Butantan.

Atualmente, a CoronaVac está em fase 3 de testes – etapa que avalia a eficácia (produção de resposta imune no organismo) – com um grupo de nove mil voluntários formado exclusivamente por profissionais de saúde. Metade dos participantes dos testes é inoculada com a vacina, os demais recebem placebo. A eficácia da CoronaVac é confirmada se ao menos 61 participantes sejam contaminados pelo coronavírus. Caso sejam atingidos os índices necessários de eficácia e segurança, a Anvisa concede o registro, liberando a substância para vacinação.

Vacina da Sinopharm também em Fase 3

A China lidera o desenvolvimento de vacinas no mundo com oito substâncias candidatas. Outra substância, esta desenvolvida pela farmacêutica Sinopharm, também está em testes de Fase 3, e segue sendo aplicada em profissionais de saúde voluntários do Oriente Médio, América do Sul (incluindo o Brasil) e países da África.

Ao contrário da disputa política no Brasil, alguns integrantes de governo emprestam a imagem e apostam com próprio corpo na descoberta de uma cura efetiva da Covid-19.

Nos Emirados Árabes Unidos, o xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum posou e postou recebendo a vacina da Sinopharm como voluntário, a exemplo de outros membros do governo e dos profissionais de saúde da linha de frente do país. O país tem parceria de produção com a Sinopharm.
“Desejamos a todos segurança e saúde e estamos orgulhosos de nossas equipes que trabalharam incansavelmente para disponibilizar a vacina nos Emirados Árabes Unidos”, escreveu no Twitter, nessa terça-feira (3).

O país registra 135.141 infecções e 497 mortes, de acordo com dados coletados pela Universidade John Hopkins.

No Bahein, cerca de 7,7 mil profissionais de saúde também se voluntariaram para receber a vacina.

Tecnologia facilmente replicável

Segundo o microbiologista, Átila Iamarino, a Sinopharm utiliza uma estratégia das mais promissoras, que conta na introdução coronavirus inativado, após ser cultivado em células VERO ou em ovo, o vírus é destruído e tem os pedaços injetado no corpo para despertar imunidade.

“É uma estratégia bastante tradicional, é assim que a gente faz as vacinas da gripe. É o tipo de estratégia que eu acho que é uma boa candidata a dar certo (…) É uma estratégia fácil de escalar para outros países, todos podem produzir vírus desta forma, talvez por isso até não seja interessante para farmacêuticas mais tradicionais porque é um método fácil de replicar que não depende de algo proprietário delas”, comentou, durante participação no podcats Xadrez Verbal.

China se abre para inspeções técnicas

O desenvolvimento das vacinas em parceria com outros países faz com que a China receba equipes representantes de outros governos para auditorias de segurança. Desde a última sexta-feira (6), a Indonésia enviou membros do Ministério da Saúde; Agência de Controle de Medicamentos e Doenças (BPOM); Conselho Indonésio de Ulema (MUI) e da estatal Bio Farma, de acordo com a diretora de registro de medicamentos da BPOM, Lucia Rizka Andaluzia.

“A equipe visitará os locais de produção das vacinas Sinovac, Sinofarm e Cansino para garantir que sejam de alta qualidade e de acordo com as boas práticas de fabricação, disse a diretora.

A Indonésia tem como meta vacinar 135 milhões de pessoas em 2021, com duas doses, priorizando 3,4 milhões para o grupo de trabalhadores médicos e policiais. Ao todo, a Indonésia terá 143 milhões de doses da vacina Sinovac, 15 milhões de doses de Sinofarm e 100.000 doses de Cansiono para remessas a partir do final de dezembro.

SAIBA MAIS

Sinopharm – Grupo farmacêutico chinês controlado por uma empresa joint-venture composta pela estatal China National Pharmaceutical Group, e a empresa privada Fosun Pharmaceutical.

Células VERO – Linhagem de células usada em pesquisas de desenvolvimento de vacinas. Oriundas de rim de macaco-verde africano (Cercopithecus aethiops), foram estabelecidas em 1962 pelos pesquisadores Y. Yasumura e Y. Kawakita, no Japão.

Com informações de Jakarta Globe, CNN Brasil, G1 e podcast Xadrez Verbal