Acusada de abuso de monopólio e violação da lei de patentes, a farmacêutica norte-americana Gilead planeja lucrar “por vários anos” com o medicamento, dificultando sua chegada a pacientes brasileiros.

“Hoje nós temos um remédio com potencial para acabar com a epidemia do HIV. O problema é que a Gilead é a única proprietária, e ela cobra preços astronômicos.” A crítica feita pelo deputado Elijah Cummings, durante audiência no Congresso americano em 2019, tinha como alvo a farmacêutica Gilead Sciences, fabricante de remédios contra HIV, hepatite C e, agora, a covid-19. O alerta de um ano atrás explica por que a maioria da população mundial, incluindo os brasileiros, terá acesso limitado ao único medicamento aprovado até agora por alguns países para o novo coronavírus, o remdesivir.

O problema, como disse o deputado, é que o remédio pertence à Gilead, empresa norte-americana conhecida por tirar o máximo proveito de suas patentes, mesmo quando isso impede o tratamento de milhões de pessoas. As graves acusações contra o laboratório vão desde infração da lei de patentes nos Estados Unidos, a abuso de monopólio e cobrança exorbitante de preços na Europa, África, Ásia e Américas.

A patente da Gilead garante exclusividade de venda do remdesivir por 20 anos. Mas a farmacêutica vem sendo pressionada a dividir a patente com o governo dos Estados Unidos, já que ao menos US$ 70 milhões em impostos dos norte-americanos foram aplicados no desenvolvimento da ampola – pesquisadores ligados a órgãos públicos testaram a droga tanto para combater o ebola como para outros tipos de coronavírus. No caso da covid-19, a droga não cura a doença nem diminui a letalidade, mas reduz o tempo de internação hospitalar – um ganho significativo na maior crise de saúde em 100 anos.

O dinheiro dos contribuintes e os esforços dos cientistas do governo foram essenciais para o desenvolvimento do remdesivir, afirma Peter Maybarduk, diretor do programa de acesso a medicamentos da organização Public Citizen. “A sociedade teve participação e é também dona da tecnologia. Mas, devido ao lobby farmacêutico em Washington [capital norte-americana], o governo não tomou medidas para assegurar preços justos e amplo acesso à medicação no mundo”, disse ele à Repórter Brasil.

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