A start-up francesa Diaccurate, especializada em biotecnologia, identificou a enzima que causa a destruição dos glóbulos brancos nos pacientes com Aids. Mas principalmente a empresa conseguiu desenvolver um anticorpo que poderia neutralizar esta enzima. O fato é que nunca se conseguiu explicar o mecanismo de funcionamento do HIV. Trinta e sete anos após a descoberta do vírus causador da Aids, a Diaccurate conseguiu.

Os médicos já haviam entendido que a Aids causava a destruição progressiva dos glóbulos brancos, as células do sistema imunológico. E que seria essa destruição que deixaria o corpo indefeso. Privado desse sistema imunológico, o organismo humano pode ser afetado com muito mais facilidade por doenças, como cânceres, por exemplo.

A descoberta de Diaccurate pode ser considerada revolucionária: a empresa, incubada no Instituto Pasteur, identificou a enzima responsável pela destruição dos glóbulos brancos, uma proteína produzida naturalmente pelos seres humanos, mas que quando infectada com o HIV, enfraquece as membranas dos glóbulos brancos.

Uma enzima pancreática

“O fato é que esse vírus é particularmente violento”, destaca Philippe Pouletty, fundador da Diaccurate e CEO da Truffle Capital. “Conseguimos provar que uma enzima existente no corpo humano, uma enzima pancreática usada na digestão de alimentos, coopera com um fragmento do vírus HIV para atacar os glóbulos brancos”, explica.

E o HIV não é a única preocupação. “Esse mecanismo não está envolvido apenas no processo da Aids (…), esse ‘cavalo de Tróia’ também pode estar envolvido em outras patologias infecciosas e em certos tipos de câncer”, ele acrescenta.

Além da identificação desse mecanismo, o Diaccurate criou acima de tudo um anticorpo que poderia neutralizar essa enzima infectada. “O anticorpo pode ser submetido a teste clínico em 18 meses”, assegura Pouletty, que indica que a primeira aplicação provavelmente será contra o câncer, antes de combater a Aids.

Muitos anos ainda de ensaios clínicos

Esse tratamento exigirá um financiamento considerável e não deve ser desenvolvido em menos de cinco ou dez anos, mas talvez seja a chave para a possibilidade de cura direta para pessoas soropositivas.

“Sabemos que podemos efetivamente neutralizar esta enzima com esse anticorpo”, sublinha Pouletty, “mas daí a afirmar que a neutralização desse mecanismo levará a uma cura funcional da Aids, ou na oncologia, serão necessários muitos anos de ensaios clínicos”.

Publicado em RFI

Com imagem de Intime