Aprovado em fevereiro pela Anvisa, o medicamento bedaquilina será usado no Brasil para compor esquema de tratamento para a chamada tuberculose multirresistente (TB MDR), modalidade da doença que apresenta resistência a vários medicamentos.

A bedaquilina é comercializada sob a marca Sirturo®. Foi descoberta pela farmacêutica Janssen, da Bélgica, que é uma subsidiária do grupo Johnson & Johnson, dos Estados Unidos, atual detentor da patente.

Nos Estados Unidos, o medicamento está aprovado desde 2012 também para uso restrito de esquema de tratamento com no mínimo quatro drogas, para casos de tuberculose pulmonar causadas por Mycobacterium tuberculosis multirresistente (TB MDR), em maiores de 18 anos, na impossibilidade de administração de esquema convencional.

Os casos de tuberculose multirresistente exigem maior tempo de tratamento e uso concomitante de vários fármacos e estão associados a maiores taxas de abandono e mortalidade.

Funcionamento

A bedaquilina é, desde 1971, a primeira droga com um novo mecanismo de ação para tratamento de tuberculose aprovada nos EUA. O medicamento age interferindo nas enzimas ATP sintase, responsáveis pela produção de energia para a bactéria da tuberculose. Quando interrompe o ciclo de energia dentro das bactérias da tuberculose, este “Inibidor da ATP Sintase” possibilita a destruição do agente infeccioso mais rapidamente.

A diferença é que a bedaquilina age no interior da bactéria e ataca seu metabolismo, enquanto os medicamentos usados até então agem na parede celular ou no RNA da Mycobacterium tuberculosis para retardar sua reprodução.

Aprovação em Fase II

A alta mortalidade associada aos casos de TB MDR e as poucas opções terapêuticas existentes levaram à aprovação da bedaquilina a partir de um programa acelerado. Os ensaios clínicos ainda estão em fase II, com pacientes escolhidos de forma aleatória (randomizado); com aplicação simultânea em comunidades distintas (multicêntrico); sem o conhecimento momentâneo de variáveis (duplo-cego), além do uso de placebo. O resultado mostrou melhora clínica nos pacientes tratados com bedaquilina.

Os estudos clínicos servem para medir os parâmetros de segurança e eficácia de novos medicamentos em humanos. Possuem quatro fases. Na fase II, são obtidos mais dados de segurança e a avaliação da eficácia a partir de testes com diferentes dosagens e indicações.

Precauções

O uso de bedaquilina foi associado ao prolongamento de intervalo QT – que representa a duração da sístole elétrica (contração cardíaca) – e aumento na mortalidade por todas as causas. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) recomenda a obtenção de um ECG basal e com 2, 12 e 24 semanas de tratamento para avaliação de desenvolvimento de anormalidades.

A avaliação de eletrocardiograma deve ser semanal para pacientes que fazem uso concomitante de outros medicamentos com potencial para causar alargamento de intervalo QT, que possuem história pessoal de torsade de pointes, síndrome do QT longo, hipotireoidismo, bradiarritmias, insuficiência cardíaca descompensada, ou que possuem valores séricos de cálcio, magnésio ou potássio abaixo do limite de normalidade.

O tratamento também deve ser interrompido com o desenvolvimento de um intervalo QT corrigido > 500 ms ou de arritmia ventricular clinicamente significativa.

Náuseas, dor de cabeça, hemoptise, dor torácica, artralgia e rash devem ser monitoradas semanalmente, bem como pesquisas regulares sobre a hepatotoxicidade com dosagens seriadas de transaminases e bilirrubinas.

Com informações de Pebmed e European Patent Office

Com imagem de Daily Maverick