Há onze anos, falecia no dia 17 de julho o cientista tcheco, Antonín Holý. Autor de mais de 400 descobertas científicas e responsável por importantes drogas antirretrovirais usadas no tratamento do HIV e da hepatite B.

Holy chefiou a sintetização da droga mais eficaz no tratamento da AIDS, o tenofovir, na Academia de Ciências da República Tcheca, graças à política do governo local de apoiar a inovação em tecnologias de saúde.

Mas entre a descoberta da substância nos anos 80 e o acesso da população, entrou em cena um pequena empresa de biotecnologia chamada Gilead, que comprou os direitos de vender a droga e desenvolvê-la. Assim, a substância descoberta por cientístas europeus financiada com recursos público passou para a propriedade do laboratório privado dos EUA.

Acompanhe como a história do tenofovir ilustra de maneira clara práticas antiéticas e novivas da grande indústria farmacêutica:

Descoberta por cientistas europeus liderados pelo professor Antonin Holy, e patenteado em 1984, o tenofovir é comprado pela Gilead. Aprovado em 2001 pelo FDA para tratamento do HIV/Aids e em 2008 para Hepatite B

  • Logo, o tenofovir foi criado em um esforço de inovação de investimentos públicos. A Gilead não descobriu o medicamento, os direitos sobre a substância em uma operação financeira, fato que se repete com outros medicamentos e outras grandes empresas em várias partes do mundo;

A formulação original da droga continha pouco potencial de vendas, porque precisava ser administrada por via intravenosa. Os cientistas da Gilead modificaram sua composição química para criar uma droga que pudesse ser tomada oralmente.

  • A Gilead apenas adaptou uma fórmula, o que invalida a argumentação de cobrar preços exorbitantes, estipulados sem transparência, alegando o custo da “inovação”;

A formulação da Gilead foi chamada de tenofovir disoproxil fumarato, o TDF, aprovado pelo FDA em outubro de 2001 e vendido sob o nome de marca Viread.

  • À época, a Gilead sabia que para ser eficaz, o Viread precisava ser administrado em altas doses que poderiam danificar rins e ossos. A empresa não divulgou adequadamente os perigos no rótulo do medicamento.

Mais tarde, foi combinado com outros medicamentos para o HIV/Aids e vendido sob outras marcas, incluindo Atripla, Truvada, Stribild e Complera.

  • Recombinar substâncias já conhecidas não atende critérios de inventividade no setor farmacêutico, mesmo assim, a GILEAD e outras farmacêuticas solicitam patentes para cada um dos seus “novos” medicamentos.

No momento da aprovação do TDF pela agência reguladora dos Estados Unidos, os cientistas da Gilead já estavam trabalhando na redução dos efeitos adversos. Em abril de 2001, os cientistas publicaram pesquisas sobre a versão TAF, com atividade mil vezes maior e possibilidade de menor toxicidade para o corpo, em especial rins e ossos.

  • A Gilead pagou médicos em todo o país para dar a versão TAF a pacientes em ensaios clínicos. Os resultados positivos dos estudos não foram publicados durante anos até que em outubro de 2004, a empresa anunciou abruptamente que estava encerrando as pesquisas sobre o TAF após uma “revisão interna de negócios”.

Enquanto isso, a Gilead investia cada vez mais na venda da versão antiga e altamente tóxica do TDF, que como um dos medicamentos mais indicados no mundo para HIV/Aids, gerava bilhões de dólares a cada ano

  • Ao mesmo tempo e discretamente, a empresa solicitava novas patentes sobre o TAF, a droga que havia informado que não estaria mais desenvolvendo.

Mais de seis anos após o anúncio de 2004, com a patente da droga mais velha se esgotando, um executivo disse aos investidores sobre “uma nova molécula interessante” que a empresa havia acrescentado aos seus planos de pesquisa.

  • Essa droga foi a TAF. A Gilead começou então a publicar os resultados positivos dos estudos anteriores não divulgados.

Em novembro de 2015, o FDA (agência reguladora dos Estados Unidos) aprovou o TAF em uma pílula combinada com três outros medicamentos. A droga foi chamada Genvoya. Outros novos comprimidos que também contêm TAF incluem Odefsey e Descovy.

  • A força de vendas da Gilead agora está pedindo aos médicos que mudem seus pacientes para as novas drogas para reduzir possíveis danos aos seus rins e ossos.

As ações judiciais impetradas contra a Gilead no Sul da Califórnia, alegam que a Gilead atrasou o desenvolvimento do TAF a fim de estender o número de anos em que as patentes protegeram os medicamentos da concorrência, permitindo-lhe cobrar preços altos.

  • Traduzindo: independente do bem estar dos pacientes e ignorando a saúde como direito humano, ao manter a pesquisa e o TAF sob “arquivamento”, a Gilead buscou patentear o TAF separadamente e salvá-lo para desenvolvimento, quando a patente e exclusividade no TDF acabassem, em 20 anos, mantendo os lucros de um monopólio às custas da saúde das pessoas.

Com informações de Los Angeles Times

Com imagem de Reflex