No ano passado, a especialista em doenças infecciosas, Helen Koenig, atendeu um casal que decidiu ter um filho. O marido é HIV positivo e a esposa não. De início os métodos escolhidos eram a fertilização in vitro e a chamada “lavagem de esperma” para manter mãe e bebê livres de infecção.

A intenção do casal era garantir que fármacos antirretrovirais mantivessem o vírus indetectável, uma “precaução extra” antes da lavagem. O casal estava pronto para iniciar o tratamento quando Koenig sugeriu outra opção que eles não tinham considerado: a profilaxia pré-exposição (PrEP). Pela estratégia, ele continuaria a tomar os antirretrovirais e ela iniciaria a PrEP, com o acordo de que eles não tentariam uma concepção natural.

“Muitos pacientes conceberam bebês saudáveis e HIV negativos no contexto da PrEP”, considerou Koenig. “Nós chamamos de PrEP-ception”.

Diariamente, 400 bebês nascem HIV positivos em todo o mundo, mas novas tecnologias e descobertas têm ajudado casais terem a terem filhos sem o HIV.

A fertilização in vitro e a inseminação intra-uterina se estabeleceram como padrão para casais sorodiscordantes pelas taxas de sucesso, especialmente a fertilização in vitro (FIV), mas nos últimos anos a PrEP tornou-se uma alternativa sedutora por se mostrar segura e ser mais barata que ambas. Enquanto a lavagem de esperma custa mais de US$ 20 mil dólares, a maioria das companhias de seguros cobrem a PrEP.

Quando o Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos abordou o tema pela primeira vez, nenhuma dessas opções estavam disponíveis, mas 27 anos depois reverteu oficialmente suas recomendações.

“O risco de transmissão de um homem HIV positivo para uma mulher HIV negativa é baixo se forem implementadas estratégias adequadas de redução de risco, como o uso de antirretrovirais, PrEP e lavagem de esperma”, apontou o CDC no Relatório Semanal de Morbidade e Mortalidade (MMWR) no início de junho.

A lavagem de esperma, que é a remoção de espermatozóides do sêmen infectado, registrou resultado tido como excelente em casais sorodiscordantes. A meta-análise de 40 estudos publicados na revista Fertility e Sterility em 2016, encontrou zero transmissões de HIV em cerca de 4 mil mulheres, tendo por base 11.585 procedimentos de lavagem de esperma antes da fertilização in vitro e da inseminação intra-uterina.

O CDC observa ainda que a lavagem de esperma em homens que estão tomando medicamentos contra o HIV, fertilização in vitro e da inseminação intra-uterina, em conjunto com um parceiro na PrEP reduz ainda mais o risco de infecção. Muitos estudos mostraram que o risco ainda é muito baixo (0.16 de 10.000 exposições) quando o homem apenas utiliza medicamentos antirretrovirais.

“A lavagem e fertilização in vitro são recomendadas como precauções adicionais para reduzir o risco, tanto quanto possível. É como criar redes de segurança para redes de segurança. A PrEP não é diferente”, disse Koenig.

“Ficou claro a partir dos dados que a PrEP é uma abordagem muito razoável para a concepção”, disse a diretora de Preservação da Fertilidade, Clarisa Garcia, que trabalha com Koenig para analisar as diretrizes de fertilidade na Universidade da Pensilvânia.

Para Clarissa, a fertilização in vitro não é mais considerada padrão para casais sorodiscordantes que não tenham problema de fertilidade, mas como o HIV pode afetar a qualidade e a quantidade de esperma do homem, tanto a fertilização in vitro como a inseminação intra-uterina sempre desempenharão um papel para casais sorodiscordantes que tenham problemas para conceber”.

Koenig tratou cerca de 10 casais no ano passado, três dos quais conseguiram conceber bebês, todos sem o HIV. “Eu acho que a PrEP também funciona para esses casais como é de se esperar e com base no que foi mostrado nos estudos. E facilmente se compara com os dados de fertilização in vitro. É por isso que penso que muitas das diretrizes que tratam destes pacientes estão começando a mudar”, concluiu, destacando a PrEP como uma escolha mais prática do que a lavagem de esperma e a fertilização in vitro.

Com informações de Penn Medicine News