Ativistas de várias partes do mundo realizaram um protesto na frente do prédio onde está a sede da farmacêutica dos Estados Unidos, Gilead Sciences, na tarde desta terça-feira (31), em São Paulo. O ato denunciou o bloqueio que a empresa impõe para o acesso a medicamentos essenciais ao redor do mundo, atrasando a cura e causando a morte de pessoas por doenças já curáveis, além de reforçar que o sistema de patentes não é compatível com a universalização da saúde
A ação reuniu ativistas do Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, Guatemala, Peru e Uruguai, que participam do Encontro por um Novo Norte para os Ativistas da América Latina no Enfrentamento da Hepatite C, que discute ações de pressão aos governos para que adotem políticas que garantam medicamentos mais baratos ou genéricos para mais de 4 milhões de infectados na América Latina.
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Também participaram ativistas da Índia, Estados Unidos e Portugal que aguardam a abertura do World Hepatitis Summit 2017, evento bienal da Organização Mundial de Saúde com a Aliança Mundial de Hepatites e o país anfitrião, Brasil. A Cúpula Mundial trabalha por uma estratégia global do setor de saúde a partir da presença de especialistas, organizações e autoridades estatais de vários países.
Os manifestantes abriram uma faixa de 11 metros com a inscrição “Gilead, suas patentes matam”, acompanhada de muitos cartazes qualificando a farmacêutica de gananciosa ou exigindo o Licenciamento Compulsório, dispositivo legal usado pelo Brasil em 2007 que permitiu ao país produzir versão genérica do Efavirenz.
“Eu vejo a Gilead como uma atravessadora. Aquela que entra no meio de um processo para aumentar o preço. Ela não inventou o Sofobuvir, apenas comprou e está jogando o preço lá em cima”, afirmou o presidente do Movimento Brasileiro de Luta Contra as Hepatites Virais (MBHV), Arair Azambuja. Ele considera as pressões sobre a companhia justas na medida em que a Gilead prepara o lançamento de outro medicamento contra o câncer. “Ela acaba de comprar mais uma companhia que estava com medicamento contra o câncer em fase de aprovação, o medicamento foi aprovado e a Gilead já estabeleceu o preço em US$ 365 mil o tratamento”, comentou.
Vários discursos aconteciam enquanto algumas pessoas deitavam no chão e tinham o corpo contornado com fita vermelha, simbolizando as vítimas da falta de acesso aos medicamentos essenciais.
“Queremos que o governo brasileiro emita a Licença Compulsória, porque estes abutres já ganharam mais de US$ 50 bilhões com o comércio de nossa saúde e de nossas vidas e isso é intolerável”, ressaltou o representante da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Grupo de Incentivo à Vida (GIV) e Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+Brasil), Jorge Beloqui.
O mundo contra a Gilead
“Os medicamentos estão em valores inalcançáveis para as pessoas com níveis salariais comuns e mesmo o orçamento público enfrenta desafios para adquirir e distribuir medicamentos. Eles estão fora de alcance e as pessoas estão morrendo”, alertou a coordenadora geral da Rede Latinoamericana por Acesso a Medicamentos (RedLam) e membro do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI), Lorena Di Giano
Em Portugal, embora haja um acordo entre governo e a Gilead para aquisição do Sofosbuvir a um valor razoável com acesso para todas as pessoas diagnosticadas, o responsável por politicas do Grupo de Ativistas de Tratamento (GAT), Daniel Simões, ressalta que o valor absoluto ainda é muito elevado, principalmente considerando o seu baixo custo de produção.
“O preço é o resultado da especulação pura e da ganância da indústria. Precisamos que mais manifestações como esta sejam feitas. Não é razoável que as pessoas continuem morrendo vitimas de uma doença curável”, reitera.
Também participaram da manifestação, representantes da Coalition Plus, Grupo dr Incentivo à Vida, Asociación Comunidad Hepatitis C Uruguay, Acción Internacional para la Salud, Fundación Grupo Efecto Positivo, Bem Me Quer, Grupo Pella Vida/SP, NHR Brasil, Sonho Nosso – Frente de Apoio Comunitário, Fórum de ONG-Aids do Estado de São Paulo (Foaesp), Vitória Régia, Associação Aliança Pela Vida (Alivi), Poder Jovem, IFarma, Corporación Kimirina, Associação Prudentina de Prevenção à Aids (Appa), Rio Chagas, Drugs for Neglectec Diseases Initiative, Universidades Aliadas por Medicamentos Essenciais, Fórum Brasileiro de Enfrentamento de Doenças Infecciosas e Negligenciadas.
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