O uso de Truvada para Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) levanta questões além do campo de propriedade intelectual. Sempre que o tema PrEP vem à tona, surgem nas discussões argumentos infundados de que o tratamento incentivaria o sexo desprotegido, bem como julgamentos de ordem moral e viés conservador, que dificultam o avanço de um tratamento com eficiência comprovada em 100%, segundo resultados do estudo “Combina!” que envolveu 526 voluntários em cinco cidades do Brasil.

“Políticas de prevenção são algo muito sério e colocá-las em prática para preservar a vida das pessoas é um desafio que não pode ter como barreira nenhum tipo de julgamento, seja moral ou baseado em preconceitos com a intenção de impedir seu uso”, afirmou o coordenador do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI), Pedro Villardi.

Villardi conta que a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), organização que integra e coordena o GTPI, iniciou no ano passado uma campanha pública para aumentar a conscientização contra os altos preços de medicamentos, mas acabou ampiando o debate para manifestar-se contra objeções morais ao uso do Truvada.

“As opiniões sem nenhuma conprovação de que, com a PrEP as pessoas deixariam de usar preservativo, não levam em conta que a epidemia de HIV/Aids e outras DSTs voltaram a crescer entre jovens brasileiros porque estes já haviam parado de usar a camisinha. Muito antes de ouvirem falar em PrEP”, afirmou Villardi.

De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), o Brasil teve o índice alarmante de 49% de todas as novas infecções na América Latina em 2016. Dados do Ministério da Saúde apontaram uma “epidemia entre os jovens do sexo masculino” cujo número de infectados triplicou de 2006 a 2015, saindo de 2,4 para 6,9 casos por 100 mil habitantes. Além disso, o número de casos de sífilis entre jovens subiu de 1,2 mil para 65 mil em cinco anos.

Por outro lado, nenhum estudo realizado com jovens que estão sendo medicados com a PrEP detectou aumento do número da infecção por outras DSTs, fato que comprovou tanto a eficácia do tratamento quanto da combinação do uso da PrEP com outros métodos, como a camisinha, já que o uso da PrEP acontece sob orientação profissional.

Desinformação de massa

Até a imprensa, cujo papel deveria ser informar, já tratou a PrEP com viés conservador. Na edição de abril deste ano, a revista Época publicou reportagem de capa que ignorou resultados de estudos e fatos, ao ponto de um dos entrevistados, o médico infectologista Rico Vasconcelos, se arrepender de ser uma das fontes da matéria e publicar uma mensagem de repúdio ao texto.

“Uma manchete que vai contra todos os resultados dos estudos realizados no Brasil, já publicados em revistas internacionais, que só pode ter sido baseada em sensacionalismo. O texto da matéria não é nada melhor. Repleto de equívocos que reforçam estigmas sobre temas que já estão soterrados de preconceitos, como por exemplo o fato analisado com julgamento moral de que gays são promíscuos, ou que somente os gays precisam se preocupar com HIV”, comentou.

Lembre o caso da reportagem A Outra Pílula Azul

Truvada

O medicamento Truvada, da farmacêutica Gilead, foi aprovado para o tratamento de pacientes com HIV/Aids desde 2004, nos Estados Unidos. Passou a ser utilizado como medicação preventiva em 2012 para adultos e, no último mês de maio foi aprovado também nos Estados Unidos para adolescentes a partir dos 15 anos.

Desde 2011, o GTPI luta contra a concessão de patente do Truvada e pelo amplo acesso da população ao medicamento no âmbito do SUS.

Fundamental para casos de alto risco

A PrEP é fundamental para adultos de alto risco, como homens que fazem sexo com homens (HSH) e casais sorodiscordantes (realações onde apenas um possui o vírus).

Atualmente, apenas 7 mil tratamentos estão sendo disponibilizados pelo SUS. As pessoas que usam PrEP ou quem está iniciando o tratamento devem comprometer-se a tomar o medicamento todos os dias e consultar seu médico para orientação e acompanhamento a cada 3 meses.

Com informações de IP-Watch

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